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Adam Scott defende Steve Williams e fala no plural

09/08/2011

Única pessoa com direito a se incomodar, não se importou com a exposição do caddie na mídia

Steve foi requisitado por Scott em boa parte do jogo: por que lhe negar o direito de ser notícia?

por: Ricardo Fonseca

A atenção dada a Steve Williams, ex-caddie de Tiger Woods, quando seu novo patrão, Adam Scott, ainda comemorava o segundo grande triunfo de sua carreira, incomodou muita gente, mas não ao único com direito de realmente se sentir lesado, o próprio Scott. “Eu não acredito que ele teve intenção de ofuscar meu momento”, disse Scott. “Espero que nós possamos ir lá fora e deixar nossos tacos falar por nós esta semana”, completou, assim mesmo, no plural, de equipe.

Scott fez questão de elogiar Steve e de valorizar o seu trabalho. “Ele é um grande motivador de meu jogo; ele me diz o que eu preciso fazer para vencer majors”, reforçou. “Um grande motivador”. Steve, por sua vez, procurou falar o mínimo com a imprensa e, de tanto insistirem, admitiu que pode ter se excedido. “No calor do momento posso ter falado um pouco demais, mas não disse nada que pudesse ferir ninguém”.

Incomodados – O que incomodou muita gente que nem estava lá foi o fato da CBS ter entrevistado Steve no green do 18, logo após o jogo terminar, e ter dado a ele, no ar, o dobro do tempo que deu a Scott. O repórter perguntava e ele respondia, sorrindo como nunca se viu, e entusiasmado com o tratamento da torcida que queria autógrafos e fotos a seu lado.

Dizem que existe um código de conduta não escrito rezando que os caddies não podem dar entrevistas. Bobagem. Todos entrevistam os caddies, informalmente. Aqui e lá. Eu vivo fazendo isso no caso dos caddies profissionais que temos no golfe brasileiro. Ele são parte do time, parte relevante, dão informações importantes, mostram um outro ângulo do jogo e são tão fiéis a seus patrões como se fossem um só. “Fizemos dois birdies de longe”, “erramos aquela caída”, “fizemos um bogey na hora que não podia”, é sempre assim, no plural, na hora do melhor e do pior.

Herói – Steve poderia ter falado menos? Poderia. Mas ele ia fazer o quê? Subiu a raia do 18 aclamado pela mesma multidão que o tratava mal quando era outra a bolsa nas suas costas. “Ste-ve Wil-liams, Ste-ve Wil-liams”, gritavam, e ele tentando manter a concentração. Momentos antes, insistira com Adam para que não fizesse um “lay up” de ferro 7 para a beira do green do 18. Deu um ferro 5 a seu patrão e indicou, enfático, o caminho da bandeira.

A bola que passou raspando ao buraco e deu a Scott a consagração de um birdie, da melhor volta do dia e de mais uma rodada sem bogeys, só aumentou a glória do australiano de 31 anos, que, como disse ter ouvido de seu novo caddie, precisa acreditar mais nele mesmo, pensar como campeão. Ele ganharia com o par ou mesmo com três putts do outro lado do green? Ganharia. Mas, convenhamos, não seria a mesma coisa.

Momento – Quando Steve se deu conta, já estava com o microfone na boca, falando ao vivo, no ar. Não foi o tempo dedicado a ele que provocou a ira de muitos, sobretudo das viúvas de Tiger. Foi ele ter dito que aquela era a melhor semana de sua vida, o que podia parecer um insulto aos 13 majors com Woods a seu lado. Mas, com Tiger, ele era o feroz cão de guarda que arrancava máquinas fotográficas de jornalistas desavisados e as arremessava no lago. Com Steve, ele era aclamado como herói.

A situação levou Steve ao possível exagero, mas o que importa, se a Scott não se incomodou com isso. As manchetes de toda a imprensa durante a semana – e não escapa um site de TV, revista ou rádio – eram frases como “Steve lidera com ex-caddie de Woods na bolsa”. Ele foi colocado como protagonista pela mesma parcela da mídia que agora quer lhe cassar o direito de falar. Eu mesmo, que sempre critiquei Steve por suas ações truculentas e desnecessárias nos tempos de Tiger, só tenho elogios à decisão da CBS de colocá-lo para falar ao vivo, pelo tempo que “rendesse”. Afinal, nem atrasou a cerimônia…

Mordida – Steve é o novo recordista do Bridgestone, com oito títulos. Ganhou US$ 140 mil de sua parcela no prêmio, quase três vezes o que mereceu Tiger. Na escola de Jornalismo aprendia-se que notícia era um homem morder um cachorro, e não ao contrário. Um caddie vencer o ex-patrão é notícia. Das boas. Ou não estaríamos falando disso até hoje e você lendo. O resto é balela.