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Caso da bola de Tiger: Eppur Si Muove

17/09/2013

PGA Tour baseou punição em sólidas evidências e nas Definições das Regras de Golfe

Bola de Tiger não afunda e nem “oscila”: muda de posição, ainda que minimamente

por: Ricardo Fonseca

Antes das Regras de Golfe propriamente ditas, o livro de regras tem um capítulo fundamental para entender os demais: as Definições. Nele, explica-se o que é uma bola deslocada (movida): “Considera-se que uma bola foi deslocada quando ela deixa a posição em que estava e fica em outra posição”. Simples assim. Foi o que aconteceu com a bola de Tiger Woods, quando ele errou a raia do buraco 1 na segunda rodada do BMW Championship e foi parar no rough, sobre folhas e gravetos.

A imagem feita por um cinegrafista freelancer do PGA Tour Entertainment – o mesmo que procurou os árbitros para relatar os fatos, uma vez que apenas ele, Tiger e o caddie Joe Lacava estavam perto o suficiente para observar a cena – não deixa dúvidas. Ao tentar tirar um graveto de perto de sua bola, Tiger provocou seu movimento lateral de aproximadamente um dimple. A bola não afundou ou oscilou (moveu-se um pouco e voltou à posição original), como preferiu se defender Tiger. Ela mudou de posição, como mostram as imagens comparativas, retiradas do vídeo, antes de depois de Tiger tentar tirar o graveto.

Lei é lei – Discutir se a regra que penaliza movimentos mínimos da bola é justa ou não, se deve ser mudada ou não, é outra questão. Mais de uma vez o PGA Tour decidiu penalizar movimentos mínimos da bola, quando está claro que eles foram provocados pelo jogador. Discutir também se era possível ou não voltar a bola à sua posição original naquela situação é também uma questão secundária, pois as regras assim o determinam e ressalvam que, no caso de não ser possível determinar o local exato, a bola deve ser recolocada na posição aproximada de onde estava.

Agora, veja o vídeo e perceba que Tiger tenta tirar o graveto de sob a bola antes de decidir que jogada fazer. Ao perceber que a bola se movia – vai lá, oscilava – ele parou e decidiu dar uma tacada muito curta, apenas para recolocar a bola na raia, aliás, a único coisa a ser feita, com ou sem graveto, pois, por causa das árvores, não havia outro tiro possível. Para que, então, correr o risco de remover um graveto que tocava a bola para uma tacadinha lateral dessas? Talvez nem Tiger saiba responder.

Coisa certa – Tivesse Tiger chamado um árbitro ou seu marcador, como manda as boas maneiras e a integridade do jogo exige em casos como esse, ele poderia se valer da gravação para provar seu ponto de vista e sair sem penalidade, o que vimos que não seria possível dadas as evidências, ou, na pior das hipóteses, reajustar a posição da bola, mesmo que simbolicamente, e sair com apenas uma tacada de penalidade, não duas.

Em resumo: Tiger correu um risco desnecessário para a jogada que iria fazer; provocou o movimento de sua bola e saiu com uma tacada de penalidade a mais do que merecia por não fazer a coisa certa, que era se imputar a penalidade e avisar seu marcador; e ainda esmurrou a parede da sala de entrega de cartões, numa demonstração de raiva e descontrole que pode ser interpretada como uma tentativa de intimidar os árbitros. Perdeu Tiger, perdeu o golfe.

Crítica – Veja o que diz Alan Shipnuck, respeitado e bem informado colunista do site golf.com, da Golf Magazine, em sua divertida mas contendente seção semanal “Heroes and Zeros”, ao enquadrar Tiger na última categoria:

“O único lugar onde o caráter de Tiger sempre foi irrepreensível era entre as cordas, mas isso está mudando. Sua decisão de jogar no Masters depois de assinar um cartão incorreto foi reveladora. Agora Woods, ainda está remoendo a penalidade que recebeu por causar o movimento de sua bola entre as árvores. Será que a bola apenas oscilou e retornou à mesma posição, como ele afirma tão enfaticamente? Difícil dizer. Mas na longa história do golfe, quando há incerteza sobre a violação das regras a coisa cavalheiresca a fazer sempre foi um jogador chamar para si a penalidade para proteger a integridade do jogo. E a sua própria.”

Galileo – Tentar negar evidências sólidas semrpe foi uma atitude dos que se supõe donos da verdade. Foi assim com o chamado Santo Oficio, que, em 1633, obrigou Galileo Galilei e renegar publicamente sua teoria heliocêntrica, a de que o Sol era o centro do universo, não a Terra, como queria a Igreja, apesar as provas em contrário. Ameaçado de morte pela “heresia”, Galileo voltou atrás pertante o tribunal da Inquisição, afirmando que a Terra estava fixa no cosmo, mas teria dito, logo em seguida, em voz baixa: “Eppur Si Muove” (e no entanto ela se move).