23/04/2015
por: Ricardo Fonseca
O golfe brasileiro sofreu uma perda irreparável esta semana com o anúncio do fechamento de um de seus melhores campos: o Costa do Sauípe Golf Links (2000-2015), que deixará a vida para entrar na história como um exemplo de como uma joia de valor inestimável para o turismo pode ser destruída por incompetência de quem vive dele.
A morte do golfe de Sauípe foi revelada em um comunicado de quatro parágrafos e quase nenhum conteúdo (leia a íntegra abaixo), dirigido aos parceiros de Sauípe – incluindo quem só comprou casas lá por causa do campo. Mark Campbell, diretor de operações da Costa do Sauípe, que assina a carta, só revela sua verdadeira intenção no final do terceiro parágrafo ao avisar que “a mudança na infraestrutura de lazer e entretenimento do resort se faz necessária, o que modifica nossa operação e descontinua as atividades do golfe”.
Demissão – Os funcionários do campo de golfe já haviam sido chamados no dia anterior e comunicados que todos estavam dispensados. Com isso, pôs-se fim a 15 anos de história do campo desenhado pelo americano Brian Costello, da JMP California, que era considerado um dos melhores e mais seletivos percursos do Brasil e que por muitos anos atraiu jogadores de todo o mundo e organizou grandes competições de golfe.
Sauípe nunca soube administrar seus hotéis, que trocaram várias vezes de bandeiras e permaneceram fechados em longos períodos, e muito menos um campo de golfe que custou milhões para ser projetado e construído, e outros tantos de manutenção, nem sempre bem feita, o que ajudou a afastar golfistas em muitas épocas, agravando a crise.
Morte – Diz o comunicado da morte do campo de 6.933 jardas e único percurso 100% links do Brasil que os administradores, após identificarem “mudanças importantes no comportamento e nas necessidades do público, desenvolveram uma nova estratégia de atuação”, que “levará alguns anos para ser completamente implementado”. O comunicado diz ainda que na decisão de acabar com o golfe foram levadas em conta “as necessidades do público-alvo, além de estudos de mercado, pesquisas, análises dos concorrentes e tendências do setor”, sejam lá quais forem.
A região da Praia do Forte sofreu forte impacto negativo com e diminuição do turismo europeu, em particular o de golfe, quando a crise financeira mundial iniciada nos EUA, em 2008, atingiu a Europa nos anos seguintes e não passou até hoje. Voos fretados diários que chegam para o vizinho Iberostar, com outro excelente campo de golfe, foram minguando até pararem por completo. Restou o turismo interno, na maioria de convenções e de baixo custo, onde o golfe nunca foi o mote.
Iberostar – Embora aberto em 2006, o Iberostar Praia do Forte Golf Club, desenhado por P.B. Dye, outro arquiteto americano de fama mundial, foi durante muito tempo o responsável por atrair o turismo de golfe do exterior para a Praia do Forte. Para receber os voos que chegavam de madrugada, o Iberostar mantinha restaurantes abertos toda a noite, incluindo o que servia carnes. Golfistas da Europa lotavam o campo e aproveitavam para jogar nos dois percursos – Iberostar e Sauípe -, que até promoviam competições em parceria.
(Nova versão, corrigindo a informação sobre os três buracos que viraram loteamento, que não foram os à beira mar) Iberostar ficou primeiro abandonado à própria sorte, sem manutenção e, depois, com apenas nove buracos em funcionamento. Tres de seus buracos foram destruídos para virar loteamento. Só mais tarde outros três buracos foram construídos por Dan Blankenship para completar o percurso que recentemente resolveu investir novamente no golfe, revigorando a atividade. Agora perdeu uma importante parceira, pois campos de golfe vizinhos, antes de serem concorrentes, são complementares na formação de um, ainda que pequeno, destino de golfe.
Ao longo de seus 15 anos de atuação no mercado de hospitalidade de uma das áreas mais turísticas do Brasil, a Costa do Sauípe, pioneira no segmento nacional de resorts, tem sido estruturada de modo a oferecer sempre a melhor experiência aos hóspedes.
Após identificarmos mudanças importantes no comportamento e nas necessidades do nosso público, foi desenvolvida uma nova estratégia de atuação, em conjunto com uma consultoria de negócios e nossas lideranças, com o objetivo de aprimorarmos as operações da Companhia. Fruto do amadurecimento do mercado consumidor do País, levamos em conta as necessidades do público-alvo, além de estudos de mercado, pesquisas, análises dos concorrentes e tendências do setor.
Com base nas informações levantadas, adotamos um novo direcionamento estratégico em 2015 que levará alguns anos para ser completamente implementado. Nesta primeira fase, aprimoramos a oferta de hospedagem e estabelecemos três diferentes modelos em nossos hotéis e pousadas – Sauípe Premium, Sauípe Resorts e Sauípe Pousadas. Além disso, a mudança na infraestrutura de lazer e entretenimento do resort se faz necessária, o que modifica nossa operação e descontinua as atividades do Golfe.
Temos a honra de ter sediado importantes eventos e campeonatos de Golfe e muita estima por esse esporte. Agradecemos a vocês, nossos parceiros, que confiaram no nosso trabalho durante esses anos de atuação no mercado. Sabemos que o caminho é longo, mas acreditamos que essas mudanças serão significativas para a nossa estratégia de negócio e permanente busca pela qualificação do nosso serviço.
Atenciosamente,
Mark Campbell
Diretor de Operações da Costa do Sauípe“
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