Especial: Depois de revolucionar o Masters, Billy Payne sofre recaída

11/04/2011


O novo site ficou péssimo, jornalistas foram cerceados e jogadores proibidos de usar o celular


Recaída autoritária do Masters: desta vez, atingindo até os jogadores do maior torneio de golfe
   Recaída autoritária do Masters: desta vez, atingindo até os jogadores do maior torneio de golfe

por: Ricardo Fonseca

O empresário William Porter “Billy” Payne, de 63 anos, assumiu a presidência do Augusta National, na Geórgia, e com ela a do Masters, em 2006, com a promessa de apagar para sempre os tempos de intolerância de William “Hootie” Johnson, hoje com 80 anos, conhecido por seu autoritarismo, sexismo e aversão à modernidade na condução do clube e do torneio que são símbolo do que há de mais importante no golfe mundial. Ambos vem do mercado financeiro, com Johnson exercendo a função de presidente do comitê executivo do Bank of America, e Payne de diretor-gerente do Gleacher & Company, um banco de investimentos com sede em Nova York.

A diferença entre eles é que Payne tem a seu favor o trabalho como presidente de executivo-chefe do Comitê dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, onde adquiriu a experiência para lidar com atletas de alto rendimento e aprendeu a importância de usar todos os meios de comunicação a seu alcance para levar a maior competição do mundo a um público que transcende fronteiras, nacionalidade e sexo. E ele fez isso nos quatro primeiros Masters que conduziu, eliminando aos poucos o ranço e o mofo de todo o mecanismo do Masters, da convocação dos jogadores, passando pelo trato como o público e o trabalho da mídia.

Recaída – Mas todo esse esforço parece ter sido em vão pelo que aconteceu este ano quando tanto jogadores como jornalistas foram proibidos de usar seus celulares e com eles as redes sociais, sobretudo o Twitter, que desde 2010 criou uma forma paralela, democrática e rica em informações que está revolucionando a forma de divulgar o golfe mundial e de os profissionais se relacionarem com um público que atinge milhões de seguidores.

Foram tantas as restrições impostas que coisa saiu de controle. A jornalista Tara Sullivan do jornal diário The Bergen Record, de Nova Jersey, foi impedida de entrar com seus colegas homens no recinto do vestiário utilizado para entrevistas informais com os jogadores. O segurança afirmou que a entrada de mulheres era proibida. Steve Ethun, porta-voz do Masters, pediu desculpas, disse que o segurança errou, e que o clube, apesar de não ter mulheres entre seus sócios, garante igual oportunidade de trabalho para a imprensa, independente do sexo. Só não avisou isso para seus empregados, orientados para discriminar as mulheres em tempo integral.

Chacota – A volta de intolerância ao Masters foi ridicularizada publicamente pelos próprios jogadores, que foram proibidos de utilizar seus celulares nas dependências do clube – inclusive nas dependências internas -, pela primeira vez na história.  Mas eles não deram bola. Rory McIlroy fotografou e publicou dentro do vestiário o cartão distribuído a cada jogador com a ridícula proibição; Ian Poulter usou seu iPhone para se filmar subindo as escadas para o vestiário de Augusta, mostrar todas suas dependências e uma vista do campo pelo terraço; e Graeme McDowell filmou de seu carro sua chegada ao clube pela histórica Magnólia Lane  até a sede do clube, além de uma vista do campo, comentada da sacada dos vestiários, cena que poucos já haviam visto.

Geoff Shackelford, que escreve o Golf Blog da Golf Magazine, publicou no dia seguinte uma reportagem que teve repercussão mundial com o título: “Masters Rescinds Invitations To Poulter, McDowell Over On-Site Tweets” (Masters cancela convites para Poulter e McDowell por twittar de dentro das dependências do clube), onde traz declarações de Billy Payne explicando que os dois profissionais europeus haviam sido cortados do Masters por usar seus celulares para mostrar, através do Twitter, dependências do clube, desrespeitando a proibição do uso dos aparelhos.

Desobediência – A reportagem dizia ainda que Henrik Stenson, que acompanhou a dupla, fora apenas advertido. McDowell – continuava a reportagem – fora multado pelo Xerife de Augusta em US$ 200 por usar celular no volante e em mais US$ 5 mil por filmar a Magnólia Lane enquanto dirigia. Só quem leu o artigo até o final descobriu tratar-se de um “primeiro de abril”. Infelizmente não do Masters, e sim da revista.

Muitos jornalistas importantes das principais redes de TV e veículos especializados em golfe, que já inseriram em seu fluxo de trabalho informações em tempo real pelo Twitter para seus milhares de seguidores durante os torneios do PGA Tour – onde o uso de celulares foi liberado em todos os eventos a partir de 2011, inclusive pelo público – tiveram de agir como colegiais para fazer o seu trabalho. Enviavam as mensagens de dentro dos banheiros, longe dos olhos dos “caça – gazeteiros” de Billy Payne. Mas fizeram seu trabalho e ainda por cima contando para todos que twitavam escondidos de dentro dos banheiros do Augusta National.

Desserviço – Apesar de toda sua experiência em esporte Billy Payne não aprendeu ainda uma máxima do futebol que se aplica na vida real: “em time que está ganhando, não se mexe”. Se soubesse disso não teria caído na tentação de mudar radicalmente e na véspera da competição, todo o site do Masters e os aplicativos do torneio para celulares, que depois de um banho de tecnologia no ano passado, simplesmente não funcionaram em 2011, para dizer o mínimo.

Lentos, desatualizados, péssimos em design e paupérrimos em informações, o site e aplicativos do Masters, limitaram em muito a qualidade de dados que todos estão acostumados a ter no circuito mundial de golfe. O site do PGA Tour e mesmo do Tour Europeu ou do Tour Asiático dão de dez, de mil a zero, na divulgação do Masters em 2011. O pior é que os demais sites não podiam trazer esses dados, monopólio de Augusta. Quem acompanhou o placar on-line pelo PGA Tour, por exemplo, por ser muito mais fácil de acessar, sofreu com um atraso de quase um buraco na divulgação dos resultados.

Preconceito – Billy Payne, esperto como é, já deve ter percebido as bobagens que comandou e como isso arruinou parte do trabalho de reconstrução da imagem de torneio, abalada não na parte esportiva, mas no preconceito entranhado nas vísceras de um clube que por fora é a vitrine do golfe mundial, mas por dentro continua tão machista como nos protestos de Martha Burk e sua feministas, que comandaram um protesto contra o Masters que obrigou o torneio a ser transmitido sem patrocinadores em 2003 e 2004.

Por causa dos protestos das feministas contra o clube que se recusa a aceitar mulheres como sócias, pelo menos três membros renunciaram: Thomas Wyman, ex-CEO da CBS; John Snow, indicado pelo presidente George W. Bush para ser Secretário americano do Tesouro e Lloyd Ward, na época presidente do Comitê Olímpico Americano. Ward foi um dos negros aceitos às pressas como sócio de Augusta, depois que a Justiça ameaçou fechar o clube por descumprir a lei contra o racismo. Saiu rapidinho após o protesto de Burk para não perder o cargo.

Jogos Olímpicos – O fato de o Masters ser jogado num clube sexista quase acaba com as pretensões olímpicas do golfe, que perdeu muitos votos no Comitê Olímpico Internacional na decisão sobre 2016, por ferir uma cláusula pétrea da entidade que só permite incluir uma modalidade se for um “esporte praticado sem discriminação com espírito de amizade, solidariedade e justiça”. O racismo de Augusta já havia impedido o golfe de ser esporte exibição nos Jogos de Atlanta, em 1996, adiando por dez anos o sonho olímpico.

A causa de Martha Burk, cujo apelido é “Hootie”, o mesmo de Johnson, então presidente de Augusta, deixou muitas marcas, entre elas a troca do dirigente por outro disposto a fazer mudanças radicais, no ritmo sulista americano, é claro. Por ironia, o verdadeiro nome de Calamity Jane, a mulher que emprestou o apelido ao lendário putter de Bobby Jones, o criador do Masters, é Martha (Jane Cannary) Burke, com “e” no final.

Respeito – Apesar de tudo, o campo sede do Masters ainda se recusa e entrar no século 21 – talvez até mesmo no século 20 -, quando se trata de respeito aos seus parceiros que, em última análise, são os jogadores, imprensa e público, os “patrons”, também sujeitos à mesma camisa de força do conservadorismo. Vamos esperar que 2012 traga um evento com políticas compatíveis com sua importância.

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