06/02/2011
Alan Shepard: primeiro americano no espaço e primeiro homem a jogar golfe na Lua
No dia 6 de fevereiro de 1971, há exatos 40 anos, o astronauta Alan
Shepard, comandante da Apollo 14, deu um pequeno slice para um golfista,
mas um grande salto para o esporte. Usando um ferro 6 da Wilson
adaptado para usar como vara o cabo de alumínio e teflon de um coletor
de rochas lunares, Shepard bateu duas bolas na superfície lunar fazendo
do golfe o primeiro esporte praticado fora da Terra.
Atrapalhado pelo traje espacial e por seus inúmeros complementos,
Shepard só conseguiu fazer o swing com uma mão e antecipou sua
dificuldade, com muito bom humor: “Houston, olhando para cá vocês talvez
reconheçam que o que eu tenho em minha mão é o cabo do coletor de
amostras, que por acaso tem um genuíno ferro 6 em sua ponta. Na minha
mão esquerda, eu tenho uma pequena bola branca, familiar para milhões de
americanos. Eu vou dropá-la. Infelizmente, a roupa é tão rígida que eu
não vou poder fazer isso com as duas mãos, mas eu vou tentar dar uma
tacadinha de banca aqui”, disse Shepard, virado para a câmara.
Swings – O primeiro swing
enterrou o taco no solo lunar. “Você pegou mais poeira do que bola desta
vez”, brincou Edgar Mitchell, o comandante do módulo lunar, que
acompanhava a cena. “Mais poeira do que bola”, confirmou Shepard. “Mas
aí vamos nós novamente”. O segundo swing não foi tão ruim, mas fez a
bola andar um palmo de lado. “Isso pareceu um slice pra mim, Al”,
brincou Fred Wallace Haise, que comandava da Nasa, na Terra, o segundo
dia de caminhadas lunares.
“Aqui vamos nós. Certo como a morte; uma mais”, disse Shepard, enquanto
tomava stance na nova posição da bola. A terceira tacada finalmente
mereceu esse nome e arremessou a bola para a direita da câmara, numa
trajetória razoavelmente baixa. O comandante então dropou a segunda bola
que havia levado, que rolou para trás na poeira lunar. Ele tomou novo
stance e se quarto swing de uma mão foi o melhor de todos, embora a
trajetória tenha sido quase igual à da primeira bola.
Imagem – “Milhas e milhas”,
exagerou Shepard, brincando com sua última tacada. “Muito bom, Al”,
elogiou Haise, da Terra. Dessas tacadas só existe o vídeo. Ambos haviam
guardado momentos antes suas câmaras Hasselblads. Uma montagem
fotográfica em que o coletor de minérios é transformado num taco,
ilustrou o livro “Moonshot”, de Shepard, onde ele conta sua história na
corrida espacial.
Terminado o golfe, Shepard removeu a cabeça do taco, que trouxe de
volta à Terra e hoje está exposta no Arnold Palmer Center for Golf
History do Museu da USGA, em Far Hills, em Nova Jersey (à direita, fotos da visita de Shepard ao Museu e da vitrine com o taco que ele usou), e usou a vara do
coletor de amostras como um dardo, que ele lançou a caiu ao lado da
primeira bola. Ou seja, o lançamento de dardo foi o segundo esporte
praticado nessa olimpíada lunar de Shepard.
Bob Hope – Anos mais tarde,
Shepard contou que sua idéia de jogar golfe na Lua foi inspirada em Bob
Hope, a quem ele, como primeiro americano e segundo homem a ir ao
espaço, na cápsula Freedom 7, em 1961, coube ciceronar na vista do
comediante ao complexo da NASA. “Hope segura um velho driver com o qual
fazia swings enquanto caminhava e brincou de dar uma tacada numa réplica
da superfície lunar”, conta Shepard, que quando foi convidado para ser o
quinto homem a pisar na Lua, não pode mais deixar de pensar nisso.
Shepard conta que decidiu usar um ferro 6 por que o tamanho do cabo do
coletor de amostras correspondia ao desse taco. “Como eu batia 150
jardas com esse taco na Terra e a gravidade da Lua é seis vezes menor,
sabia que a bola não passaria de umas 900 jardas”, conta o comandante da
Apollo 14. “Não sei exatamente quanto a segunda bola voou, mas ela
passou um pouco de nossas pegadas, que estavam a 200 jardas de
distância, no máximo”.
Missão quase secreta – Quem
adaptou a cabeço do ferro para ser usada no coletor de amostras foi o
profissional Jack Harden, do River Oaks Country 
Club, em Houston.amigo
do astronauta. Tudo foi feito em segredo, incluindo seus treinos com o
taco improvisado. “Eu queria filmar tudo e não podia fazer feio”, contou
Shepard, que teve que contar seu plano para Bob Gilruth, diretor do
Centro Espacial da Nasa, que pediu para ele desistir da idéia que
considerou fútil, ainda mais depois do quase desastre da Apollo 13.
Shepard o convenceu a mudar de idéia garantindo que arcaria com todos os
custos da brincadeira e que não jogaria golf se algo não estivesse indo
bem na missão. Apenas uma dúzia de pessoas sabiam da brincadeira que
surpreendeu o mundo (ao lado, o livro de Shepard sobre a corrida espacial e detalhe da vara do taco e uma ds bolas abandonadas na superfície lunar).
Depois da Apollo 14, Shepard voltou a seu cargo como chefe dos
astronautas da NASA. Ele foi promovido a contra-almirante, antes de se
aposentar da NASA e da Marinha, em agosto de 1974. Ele morreu em julho
de 1998, aos 74 anos, vítima de uma leucemia diagnosticada dois meses
antes. Sua cinzas foram jogadas no mar, junto com as da esposa, que
morreu meses mais tarde.
Golfe no Espaço – No dia 22 de
novembro de 2006 o golfe votou a ser praticado fora da Terra, quando o
cosmonauta russo Mikhail Tyurin aproveitou um passeio espacial na
Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), em órbita da
Terra, para bater uma bola de golfe em direção ao espaço. A brincadeira
foi patrocina pela Element 21, fábrica canadense de tacos que utiliza o
Escândio, um metal raro, leve e resistente que leva o número 21 na
tabela periódica dos elementos e que foi amplamente utilizado na
construção da própria ISS.
Para minimizar os riscos de acidente, o cosmonauta russo usou uma bola
leve, com três 
gramas, 1/15 do peso de uma bola oficial. Mesmo assim, a
Agência Espacial Russa, contratada pela E21 para a demonstração,
precisou fazer um seguro de US$ 75 milhões para obter autorização da
Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, para dar a tacada.
Bola em órbita – A bola foi
jogada a partir de um tee em forma de mola, algo parecido com modelos
antigos de batedores de ovo,fixado num corrimão da estação. O taco, mais
uma vez, foi um ferro 6, dourado, feito com a liga de escândio, que foi
trazido de volta à Terra e leiloado para arrecadar fundos para a
caridade.
Para a Nasa, a bola decaiu de órbita rapidamente, sendo destruída em
três dias na reentrada da atmosfera. O jornal russo, MK, com circulação
de 800 mil exemplares por dia, publicou cálculos divergentes,
demonstrando que a bola de golfe ficaria de 3 a 4 anos em órbita. De
qualquer forma, uma tacada bem mais longa que a de Shepard, mas
infinitamente menos importante.
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