19/01/2015
por: Ricardo Fonseca – fotos: Thais Pastor, enviados especiais a Buenos Aires
O objetivo de qualquer jogador de ponta é chegar aos buracos finais de um grande torneio em condições de lutar pelo título. E, apesar de um desastre no sábado, quando jogou duas bolas na água para perder a liderança que mantinha desde a manhã do dia anterior, Tourinho construiu sua volta ao topo do placar, domingo, na volta final, e mesmo perdendo o título do Latin America Amateur Championship, no Pilar Golf, em Buenos Aires, na Argentina, por duas tacadas para o chileno Matias Domínguez, provou estar com jogo maduro e pronto para profissionalismo.
Líder desde a véspera, quando fez seis birdies nos últimos oito buracos, Dominguez, de 22 anos que defende a Universidade Texas Tech, nos EUA, vinha jogando com segurança, embocando tudo e mostrando que ele não perderia o torneio; teriam que ganhar dele. Tourinho, que jogava um grupo à frente, do pelotão, abriu a rodada final com um bogey de três putts, mas não se entregou. Respondeu com quatro birdies, do 3 ao 8, sendo que no 7 chegou com duas ao green do par 5 e viu sua tentativa de eagle tocar o buraco e parar dada para birdie, antes de o jogo ser suspenso por quatro horas por causa de uma tempestade com raios.
Volta ao topo – No recomeço, com o campo encharcado e as bancas cheias de água, Tourinho confirmou o birdie e fez mais três até o buraco 13, para chegar a 10 abaixo e voltar, finalmente, a ter chances de lutar pelo título. Enquanto isso, Dominguez tinha oscilava entre 12 e 13 abaixo e via a pressão aumentar nos buracos finais do Pilar, onde a água é sempre fator decisivo.
Para Tourinho, o momento chave do jogo veio no buraco 15, o mesmo onde mandou duas bolas na água no dia anterior para fazer triplo bogey, quando foi jogado de 412 jardas. No domingo, o tee foi colocado a pouco mais de 300 jardas no green, convidando os jogadores para o risco de bater drive para a bandeira neste buraco em curva para a esquerda, com toda a lateral e a frente do green defendida por um grande lago. Tourinho não se fez de rogado e bateu um drive de 320 jardas que passou o green pela direita. De lá voltou um pouco curta, antes de errar por muito pouco o putt em descida para birdie que poderia ter mudado a sorte do jogo.
Decepção – A decepção com a oportunidade perdida tirou um pouco a concentração de Tourinho, que deu uma pesada do rough no 16 para ficar longe do green e fazer bogey. No traiçoeiro 17, de par 3, com água de todos os lados e vento contra, Tourinho bateu uma bola alta que foi levada para a esquerda do green, de onde salvou o par, e no 18, seu drive ficou a centímetros do lago à direita, de onde errou o green para a direita, apenas para salvar novo par e terminar com 279 (70-66-75-68), nove abaixo.
No dia anterior, depois de perder a liderança e ficar a cinco tacadas do líder Dominguez, Tourinho arriscou que uma volta de 65, sete abaixo, no domingo, poderia lhe dar o título, o que se mostrou verdade. “Mesmo depois do bogey do 1 eu ainda acreditava”, conta Tourinho, que salvou um bom par no 2 para recobrar a confiança. “Meu jogo cresceu a partir daí e fiz e fiz birdies no 3 e 4, salvei bons pares no 5 e 6, da banca, voltei a fazer birdies no 7 e no 8 e isso alavancou minha volta”.
Detalhes – Tourinho conta que não desanimou, apesar de permanecer três ou quatro atrás do chileno e de Tosti, porque acreditava que uma hora a pressão iria mexer com os líderes. “O que me faltou mesmo foram detalhes, coisas de jogo”, conta o brasileiro, que viajou na noite desta segunda-feira de Buenos Aires para Lima, no Peru, onde disputa esta semana o Campeonato Sul-Americano Amador Individual, talvez duas despedida do golfe amador. Na semana seguinte ele volta à Argentina para a escola de classificação do PGA Tour Latinoamérica, onde pretende iniciar a carreira profissional.
“Minha bola rodou no 12; no 14 tive chance; e no 15 tocou de novo no buraco”, recorda Tourinho que está semana deverá voltar a figurar entre os 200 melhores do ranking mundial amador. Apesar da sensação de dever cumprido, Tourinho reconhece que não bateu muito bem na bola durante toda a semana, sobretudo os drives, longos, muitas vezes errando as raias para se colocar em problemas. “Confesso que me virei muito para fazer resultado esta semana”, diz Tourinho, que se ressentiu da falar de mais treinos em Tulsa, nos EUA, onde mora com a mulher e um filho ainda bebê, já que o inverno rigoroso de lá o obrigou a treinar indoor, batendo bolas para a neve do lado de fora.
Vitória – Apesar de Dominguez ter feito bogey no 16 par voltar a 12 abaixo, apenas o argentino Alejandro Tosti, que começou o dia perdendo por uma e chegou a estar empatado em primeiro, podia sonhar com o título naquele momento, ainda mais que era acompanhado por uma grande e ruidosa torcida. Tosti fez algumas jogadas incríveis, mas deu três putts no 17 para sepultar suas chances de vitória.
Mesmo fazendo bogey no 18 para jogar uma abaixo no domingo, Dominguez foi campeão com 277 (72-65-69-71) tacadas, 11 abaixo do par, para ganhar o direito de jogar no Masters, no US Amateur e no British Amateur, além de entrar direto nas seletivas finais para o US Open e British Open. “Ainda não posso acreditar, isto é algo que nem nos meus sonhos pensei que alguma vez poderia chegar a me acontecer”, disse o campeão, que desabou um choro de alívio nos braços do caddie.
Pressão – “Foi um dia muito difícil, tinham muitas coisas em jogo e estava complicado administrar a pressão”, conta o chileno. “Creio que joguei muito bem durante todo o torneio, me mantive calmo o mais que pude e, por sorte, pude terminar bem”, comentou Domínguez. “No buraco 18, não sentia mais meu corpo”, confessa. “Estava tremendo, muitas coisas estavam passando pela minha cabeça e a única coisa que queria era embocar”, relembra. “Por isso comecei cantar para tirar da mente todos os pensamentos, que é uma técnica que uso habitualmente”.
Tourinho não ficou para ver o pelotão terminar, mas quase teve uma boa surpresa. Tosti, que ficou curta para o green do 18 e tentou embocar um chip que forçaria um desempate, passou um metro do buraco e ficou com um delicado putt para par. O vice-campeonato já estava em suas mãos, e com ele o direito de jogar nas seletivas finais do US Open e do British Open, mas se tivesse errado o putt terminaria empatado em segundo com Tourinho e com o mexicano Alvaro Ortiz, que jogou 67 (-5), a melhor volta do domingo, ambos com nove abaixo, conta 10 do argentino. Neste caso, os três teriam o benefício de ir á seletiva final dos dois majors.
Mais choro – Tosti, de 18 anos, que também desabou em prantos no green, foi à sala de imprensa apenas para dizer que sentia um misto de orgulho e desilusão. “Ter chegado tão perto do meu sonho torna difícil assimilar este momento”, disse. “Acredito que joguei muito bem todo o campeonato, ainda que errasse muitos putts, especialmente os da volta de hoje, que foram decisivos para que perdesse”, disse antes de abandonar a sala, novamente aos prantos, amparado por familiares.
Os outros quatro brasileiros que passaram o corte não jogaram bem no final de semana. Daniel Ishii foi o segundo melhor brasileiro, na 34ª colocação, com 296 tacadas (8 acima). Pedro Junqueira e Herik Machado empataram na 44ª posição, com 299 (+11) e Tomaz Pimenta ficou em 50º, com 301 (+13). No total 62 jogadores passaram o corte. Luiz Jacintho, com dores no ombro, não conseguiu vaga para o final de semana.
Patrocínio – O LAAC, que reuniu 109 jogadores de 28 países da América do Sul, América Central, Caribe e México, foi organizado com esmero pelo Masters, R&A e USGA e teve patrocínio da 3M, AT&T, UPS, Mercedes-Benz e Zurich, com IBM e Rolex como Scoring Partners. Em 2015, o torneio será disputado na terceira semana de janeiro, no Teeth of the Dog (Dente do Cachorro), magnífico campo que Pete Dye construiu no luxuoso complexo da Casa de Campo, na República Dominicana.
Obs.: Pedimos aos leitores desculpas pela demora em publicar a reportagem final, mas os temporais que caíram em Buenos Aires derrubaram a internet em nosso hotel desde a tarde de domingo até nossa volta ao Brasil, segunda, que levou o dia todo por causa de alagamentos, atrasos nos vôos e protestos que tumultuaram a capital argentina devido à comoção com a morte suspeita do fiscal federal Alberto Nisman que iria denunciar a presidente Cristina Kirchner ao Congresso nesta segunda, responsabilizando-a por supostamente encobrir terrotistas de Irã que seriam responsáveis pelo maior e mais sangrento atentado já ocorrido no continente, contra uma entidade israelita em Buenos Aires.
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