20/06/2011
por: Ricardo Fonseca
O norte-irlandês Rory McIlroy, de 22 anos, fez mais do que vencer um major neste domingo, no campo do Congressional, perto de Washington. Ao conquistar o 111º US Open de ponta a ponta e com oito tacadas de vantagem sobre o segundo colocado, ele bateu ou igualou uma dúzia de recordes que remetem a nomes como Bobby Jones e Tiger Woods, fazem dele o líder inconteste da geração pós-Tiger e nos dá a certeza de que não falta muito para ser confirmado como o melhor jogador de golfe da atualidade.
Há campeões de majors que sabemos de antemão que irão desaparecer tão rápido quando surgiram. Com Rory “MagicIlroy” se passa exatamente o contrário. Não há quem não acredite que ele veio para ficar, e por muito tempo. Rory tem o talento, a humildade e a simpatia para ser um herói de carne e osso, não no pedestal inatingível em que Tiger se isolou até a carreira desmoronar, mas no mundo real, ao lado do público e dos amigos, em festas e pubs na sua Hollywood, que passou a noite em claro comemorando o duplo feito: o título de seu maior ídolo e a dobradinha norte-irlandesa no US Open, que nunca tivera o mesmo país estrangeiro vencendo em dois anos consecutivos.
Glória irlandesa – Os irlandeses passaram 69 anos sem vencer um major sequer. Agora, com os de Padraig Harrington, já conquistaram cinco dos últimos 16 torneios do Grand Slam, motivo mais do que suficiente para esgotar o estoque de bebidas de Belfast a Dublin. Um motivo a mais: só dois majors foram vencidos com resultados menores do que os de MagicIlroy: o de Greg Norman que jogou 267 no British Open do Royal St. George`s, em 1993, e o de David Toms, que marcou 265, no PGA Championship de Atlanta, em 2001. Curiosamente as sedes dos próximos dois majors e com Rory em campo.
Ao jogar 268 (65-66-68-69) tacadas, 16 abaixo do par, oito a menos do que o australiano Jason Day, Rory quebrou os recordes de resultado total e em relação ao par para 36, 54 e 72, buracos do US Open. Sua marca de 268 é quatro tacadas melhor do que o recorde anterior. Ele se tornou o sexto jogador em 111 anos a vencer de ponta a ponta e o quarto a jogar quatro voltas abaixo de 70 no US Open. E é o mais jovem campeão do US Open, desde Bobby Jones, e o mais jovem campeão de majors, desde Tiger Woods, sendo o líder de sete das oito últimas voltas que disputou em torneios do Grand Slam.
Contraste – O título do US Open elevou Rory do oitavo para o quarto lugar do ranking mundial, que agora tem o recorde de quatro europeus nas quatro primeiras colocações. Um triste resultado para o orgulho do golfe americano, que teve dois jogadores pouco conhecidos – Kevin Chappell e Robert Garrigus – como destaques em seu maior torneio. Pior do que isso, pela primeira vez desde a criação do Masters, em 1934, e com ele o conceito do moderno Grand Slam do golfe profissional, os EUA ficam cinco majors seguidos sem uma vitória sequer.
No dia em que McIlroy, de 22 anos, surge como o grande ídolo do golfe para esta década, e que o australiano Jason Day, de 23, entra para o grupo dos dez melhores jogadores do mundo, Phil Mickelson, de 41 anos, deixou o posto de americano mais bem colocado no ranking mundial para Steve Striker, de 44, enquanto Tiger, de 35 anos, completou três anos sem vencer um major e caiu mais um pouco, para o 17º lugar do ranking mundial e com viés de baixa.
Igual para todos – É verdade que os resultados excepcionalmente baixos do US Open deste ano se deveram os greens amaciados pelas chuvas que caíram durante a semana e pelos cuidados para que a grama do campo recém-reformado não morresse. Por isso, houve 32 voltas abaixo do par no domingo, recorde do US Open, e 108 voltas abaixo do par na semana, o segundo maior número na história do torneio. Mas o campo, acreditem, era o mesmo para todos, embora Rory parecesse estar jogando em outra categoria.
Rory acertou 62 de 72 greens, na semana, um recorde absoluto desde que a USGA, que organiza o US Open, começou a calcular as estatísticas. Isso quer dizer que por 62 vezes Rory teve um putt para birdie na semana. Desses, ele embocou 13 e ainda fez um eagle, de fora. Rory chegou a jogar 35 buracos sem bogeys, até fazer um duplo bogey ao mandar a bola na água com um tiro arriscado no buraco final do segundo dia. Depois, fez apenas mais três bogeys, sendo dois deles nos sete buracos finais, quando a vitória já estava mais do que garantida e a emoção já tomava conta do menino.
Sinfonia – A partir de hoje, ninguém mais vai falar das 80 tacadas com que Rory entregou a liderança do British Open de 2010, após jogar 63, nove abaixo na estréia em St. Andrews, nem das 80 com que entregou uma vantagem de quatro tacadas na volta final do Masters deste ano. Eram apenas o prelúdio de uma grande e ainda inacabada sinfonia.
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